(continuação do capitulo anterior)
8. UM MIRACULOSO REGRESSO

Mas nos dias seguntes, começou-se a ouvir um rumor: de que Lauda iria regressar ao ativo já em Monza! A principio, poucos acreditavam nisso, mas a 10 de setembro de 1976, em Monza, dia dos primeiros treinos do GP de Itália, o mundo inteiro via espantado um Niki Lauda diferente. Mal conseguiam acreditar que 40 dias antes, aquele homem tinha estado a lutar pela vida, do qual poucos acreditavam que sobreviveria, e viam o que as consequências físicas que o acidente de Nurburgring tinha causado em si: parte da sua cara estava queimada, tinha perdido as sobrancelhas e parte do cabelo, a sua orelha direita estava mutilada, tendo perdido a sua cartilagem exterior. No final daquele fim de semana, todos aplaudiam a coragem de um homem que tinha ido ao Inferno e voltara e tiravam o chapéu a tal gesto, pois iria haver luta até ao fim pelo título mundial daquele ano. E ainda por cima, a sua determinação e o seu humor continuavam intactos.
Mas a adaptação de Lauda ao carro foi tudo, menos fácil. Apesar de ter um capacete especialmente preparado para o efeito, quando o retirou, após uma das suas passagens pela pista, os pensos estavam em sangue e as feridas em carne viva. E o próprio piloto confessou que teve um ataque de pânico no primeiro dia, depois de andar uma volta no carro. Mas ele adaptou-se, e após uma sessão à chuva na sexta-feira, conseguiu o quinto melhor tempo no sábado, na frente de Hunt, que era apenas o nono na grelha.
Mas no final da sessão de sábado, mais controvérsia: os comissários de pista descobrem que os McLaren de Jochen Mass e James Hunt, bem como o Penske de John Watson, tinham corrido com gasolina com mais de 101 octanas, que era ilegal. Os seus tempos foram imediatamente anulados e criaram desde logo “frisson” porque corriam o risco de não se qualificarem para essa corrida, dado que os tempos de sexta-feira tinham sido feitos em piso molhado. Para Hunt, isto tudo só poderia ter acontecido por uma razão: era a Ferrari, que queria eliminar a concorrência mais direta.
“As autoridades italianas simplesmente fizeram batota, de acordo com as regras, poderemos usar gasolina de 101 octanas, com uma margem de erro de de uma octana. Anunciaram que a nossa gasolina era de 101,7 octanas, bem dentro da margem de erro, de acordo com as regras. Apelamos, é claro, mas os organizadores sabiam que o apelo só seria respondido após a corrida, e eles sabiam disso“. E de facto foi verdade: no apelo, a McLaren foi-lhe dada razão, mas este aconteceu depois da corrida, e o mal estava feito.
Desesperados, McLaren e Penske tentaram convencer três pilotos para que retirassem os seus carros antes da corrida e lá conseguiram: Guy Edwards fez isso, enquanto que os Wolf-Williams de Arturo Merzário e o Tyrrell privado de Otto Stupacher já tinham abandonado a pista de Monza, convencidos que não tinham conseguido se qualificar.
Na largada, Hunt tentou fazer uma corrida de trás para a frente, mas acabou na 11ª volta quando deu um toque no Shadow de Tom Pryce na segunda chicane. Para Lauda, a corrida acabou no quarto posto, numa corrida vencida por Ronnie Peterson, mas mais importante, tinha conseguindo três preciosos pontos na luta pelo campeonato. No final, ainda com os pensos em sangue, foi levado em ombros pelos “tiffosi”.
9. UMA DECISÃO EXTRAORDINÁRIA
Mas mais estava para vir: a 25 de setembro, a FIA ouviu o apelo da Ferrari em relação ao resultado do GP da Grã-Bretanha, dois meses antes, e esta deu razão á Scuderia, que afirmou que Hunt recebeu “assistência externa” do seu McLaren, o que era contra os regulamentos. Resultado: Hunt foi desqualificado e os nove pontos cairam no colo de Lauda, e a diferença passou para 17 pontos. A sentença foi anunciada na terça-feira anterior ao GP do Canadá, marcado para o circuito de Mosport, nos arredores de Toronto.
A sentença fora recebida em choque pelos lados da McLaren: “Nenhum de nós tinha levado o protesto da Ferrari muito a sério, e por causa disso, Teddy Mayer, o patrão da McLaren, não tinha preparado uma defesa convincente. Foi um grande choque para mim“, disse Hunt.
Para a equipa, era um sinal de que tudo estava perdido. Caldwell, que para além de cuidar dos carros, tinha de estar “de olho” a Hunt, para controlar o seu já famoso comportamento, decidiu admitir a derrota e dar os pontos à Ferrari… e deixar Hunt a gozar a vida: “Havia uma banda no bar do hotel onde estávamos, com uma linda cantora, e James estava de olho. A cada intervalo, ele levava-a para o seu quarto e depois a trazia de volta, para que assim pudesse fazer o seu espectáculo até à próxima pausa, altura em que James a levava para o quarto. Isto foi assim até à meia-noite, bebendo cada vez mais, entretanto. Nessa altura, eu disse ‘vou para a cama’.” Aparentemente, Hunt continuou assim por toda a noite.
Mas isso teve um efeito contrário ao pensado, pois o britânico fez a pole-position e venceu a corrida, com Lauda a ser apenas o oitavo, vítima de problemas com a sua coluna de direção, que tornou a sua condução dificil. E com o mesmo comportamento, na semana seguinte, no GP dos Estados Unidos, em Watkins Glen, Hunt conseguiu tudo: pole-position, volta mais rápida e a vitória na corrida, horas depois de Lauda ter aparecido no quarto de Hunt de fato completo, subido para cima da cama e anunciando perante o piloto inglês: “Hoje, vou ganhar o campeonato do mundo!“. Acabou na terceira posição.
A uma corrida do fim, o esforço final de Hunt tinha reduzido a diferença entre os dois para meros três pontos. Lauda tinha 68 pontos e Hunt 65. E tudo iria decidir-se num pais e num circuito totalmente novo para a Formula 1: o circuito de Mont Fuji, no Japão, a 24 de outubro.
(continua amanhã)